O Dia da Sobrecarga do Planeta, ou seja, a data a partir da qual estamos a consumir recursos que só deveriam ser usados no ano seguinte, aconteceu este ano a 1 de agosto, um dia mais cedo do que no ano passado. O estudo foi divulgado recentemente pela Global Footprint Network, uma organização internacional dedicada a avaliar e monitorizar a pegada ecológica global, que alerta para o que designa ser a “mais crítica corrida da humanidade”. O estudo reforça ainda o papel central de programas de descarbonização e de sustentabilidade urbana, como é o Guimarães 2030, na inversão dessa tendência.
Consumo está 70 por cento acima da capacidade do planeta
Desde os anos 70 do século XX que tem vindo a acentuar-se a tendência de antecipação da data de sobrecarga do planeta, o que significa que a humanidade tem vindo a consumir cada vez mais em forma de “créditos” ambientais. Em média, os humanos estão agora a consumir o equivalente a 1,7 planetas – mais 70 por cento do que a Terra teria para oferecer.
Ano após ano, estamos a abusar do “cartão de crédito” ambiental. E apesar da aparente estagnação da data de sobrecarga nos últimos anos, ela continua a acontecer muito cedo – ao cabo de sete meses – o que significa que estamos a exceder em cinco meses ao ano a biocapacidade do planeta, esgotando a biosfera. E mesmo que a data se mantenha estável, a pressão acumulada sobre o planeta continuará a aumentar com o tempo, pelo que não pode dar lugar a grandes otimismos. Isto porque a fatura dessa despesa ecológica (o uso intensivo) traduz-se em desflorestação, erosão do solo, perda de biodiversidade e acumulação de dióxido de carbono na atmosfera – que conduz a alterações climáticas, maior frequência de fenómenos meteorológicos extremos e a uma menos capacidade de produção alimentar.
A esse propósito, Lewis Akenji, da direção da Global Footprint Network, declara que “a sobrecarga terminará um dia: resta saber se por via de uma transição planeada ou pela via do desastre”. O relatório afirma que o esforço é gigantesco, mas é possível. E a grande esperança é que a humanidade perceba atempadamente que desse esforço depende a nossa sobrevivência.
Nem otimismo nem derrotismo – ação climática é essencia
O risco é real, mas as respostas também: e para combater a sensação de impotência, o site dedicado ao Earth Overshoot Day (Dia da Sobrecarga da Terra) aponta várias soluções, tanto à escala individual e comunitária como empresarial e governamental. A esse catálogo de boas práticas chamam #PowerOfPossibility (O Poder da Possibilidade) e essas possibilidades estão concentradas em 5 grandes áreas de ação: Cidades, Energia, Alimentação, População e Planeta. Cada iniciativa nestas áreas, por mais pequena que seja, faz parte das soluções para empurrar a data de sobrecarga para mais tarde no ano – #MoveTheDate.
Se, por exemplo, conseguíssemos alimentar 75% das necessidades mundiais de eletricidade com fontes renováveis, isso faria recuar o Dia da Sobrecarga em 25 dias. Ou 13 dias, ao reduzir para metade o desperdício alimentar. Já baixar a pegada carbónica para metade representaria um ganho de 93 dias, atirando o Dia da Sobrecarga para o início de novembro.
A Footprint Network disponibiliza ainda uma calculadora da pegada ambiental muito interessante e detalhada, que não só mostra o efeito dos nossos padrões de consumo na data de sobrecarga da Terra, como avalia o comportamento e propõe adotar medidas mais ecológicas. De resto, essa é a calculadora que pode encontrar na página inicial do site guimarães2030.
O LUGAR DE PORTUGAL NO RANKING DA SOBRECARGA
Se a humanidade, no seu conjunto, está desde o dia 1 de agosto a explorar recursos “a crédito”, Portugal esgotou os seus há muito mais tempo, encontrando-se em défice desde o dia 28 de maio. Segundo os números, se cada habitante do planeta se comportasse como o cidadão médio português, a humanidade precisaria de cerca de 2,9 planetas para sustentar a sua utilização de recursos. No caso de sermos todos norte-americanos, seriam precisos cinco planetas. Este ano, o país que primeiro esgotou os recursos foi o Qatar, logo a 11 de fevereiro, seguindo-se o Luxemburgo, no dia 20. Os últimos países a esgotar os seus recursos serão o Equador e a Indonésia, a 24 de novembro.
Sobre a pegada ecológica
A pegada ecológica é a ferramenta mais abrangente para contabilidade de recursos biológicos. Tem por base 15 mil pontos de dados por país e por ano, aos quais adiciona os dados da procura mundial por áreas biologicamente produtivas – alimento, madeira, fibras, sequestro de carbono e acomodação de infraestruturas. A Pegada Ecológica avalia as necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais e compara-as com a capacidade da Terra para fornecer tais recursos e serviços (biocapacidade). Atualmente, o consumo de carbono representa 61 por cento de toda a Pegada Ecológica da humanidade.
Sobre a Global Footprint Network
A Global Footprint Network é uma organização internacional de sustentabilidade que está a ajudar o mundo a viver dentro das possibilidades da Terra e a responder às alterações climáticas. Desde 2003, colaboram com mais de 50 países, 30 cidades e 70 parceiros globais para fornecer conhecimentos científicos que impulsionaram decisões políticas e de investimentos com impacto relevante.